segunda-feira, 28 de março de 2011

Portfólio: Placar - Zazo, o Nego

Placar
por Zazo, o Nego
“Onde estiver o teu tesouro, ali estará o teu coração.”
(Mt 6:21)
"Quanto será que terminou o jogo?" O pensamento não saía da cabeça de Ronaldo, nosso irmão querido, membro de uma igreja na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. Esse mano, que integrava o coro da igreja, tinha uma característica peculiar: era flamenguista... doente! Me digam os entendidos no assunto, se não seria redundância dizer que um flamenguista é doente... perdoe, leitor ou leitora flamenguista. É só brincadeirinha.
O drama de Ronaldo era o seguinte: o período de cânticos já havia terminado. Àquela altura, já haviam se passado bem uns quarenta minutos do final da partida, e nem sinal de uma vitória do time do coração... o culto passava pelo período de dízimos e ofertas.
"Quanto será que terminou o...?" A angústia era indescritível. Aquela agonia calada, não expressa... Há um filme gringo em que o personagem principal defende uma idéia desse tipo. Diz ele que o não dito é mais provável de ser o nosso pensamento do que o dito.
O pastor auxiliar dava os avisos da semana: "reunião de mulheres, jantar dos casais, encontro de jovens, culto na casa da irmã Fulana, evangelismo na feira..." 
"Quanto será que terminou...?" Ai, que vontade de saber! Tinha um irmãozinho, na verdade um grande “comparsa”, que sempre aparecia depois de o culto ter começado. Lá de trás ele fazia um sinal de positivo, polegar pra cima, como que dizendo: "fica frio, o Flamengo ganhou". Dali, do coral, dava pra ver bem.  Aí era só alegria! O louvor fluía, tudo corria bem. O placar era apenas um detalhe, o mais importante já estava resolvido, só de saber que o time vencera. Mas o querido dessa vez chegara normalzinho, não manifestara nada... durante o culto, Ronaldo às vezes olhava para ele com rosto interrogativo, e o irmãozinho simplesmente não correspondia.  O pastor já havia começado a pregar. Ele lia um trecho no evangelho de...
"Deve ter perdido.” Sabe por quê? É que, na Ceilândia, quando o Flamengo ganha, você fica sabendo rapidinho...! Nem precisa ouvir o jornal do rádio, nem ligar a televisão, nem entrar na internet, nem perguntar a ninguém. O alarido é espontâneo, o buzinaço, a gritaria. Na Ceilândia, quando o Flamengo ganha, há mais comemoração do que no Rio de Janeiro, terra natal do rubro-negro. “Só pode ter perdido!!! Tá tudo muito calado lá fora...!”
E o pastor dizia que quem quiser perder a sua vida...
"É, mas... nunca se sabe. Talvez tenha empatado." O jogo era importante, já na semifinal do campeonato, mas aquele era o chamado “jogo de ida”. Haveria o retorno, e este seria no Maracanã! “Se tiver empatado lá, em São Paulo, aí é empate com sabor de vitória - no jogo de volta a gente ganha, na certa!!!” É, mas aí, por que o pessoal lá fora não soltava fogos, não comemorava o empate...? Afinal, aqui pra nós, um empate fora de casa, nessas alturas, com o Flamengo tendo chegado às semifinais aos trancos e barrancos, bem que merecia uma comemoraçãozinha... 
"Os céus comemoram quando um pecador se arrepende", dizia o pastor.
"Quanto será que...?" Que coisa! Esse pensamento já não saía da cabeça, como uma tortura! Que coisa horrível a sensação de não ter domínio sobre a própria mente!! Quando saíra de casa, o jogo não havia começado. Algo o fazia pensar que tava um a zero pro São Paulo... o pastor citava alguma coisa do apóstolo São Paulo... o culto parecia estar terminando. Não havia muitos visitantes, mas havia gente sendo tocada pela palavra.
“Se o Flamengo tiver ganho, chega de ficar pensando nessas coisas, ainda mais durante o culto! Onde já se viu? O cara tem que se libertar desse negócio de futebol.”
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará...", dizia o pastor.
"Mas quanto será...?" Quantos estavam entendendo a mensagem? Uns quatro. Quatro pessoas haviam se convertido. Os irmãos estavam felizes. Alguns que acabavam de receber Jesus estavam chorando emocionados. O Espírito Santo age! Aquele culto havia sido tão simples, assim como a mensagem, porém havia unção ali. Dona Marina se emocionava porque o filho estava voltando pra igreja. Que bênção, graças a Deus!!!
Chegava a hora de voltar para casa. Mas o nosso querido torcedor, ainda nessas alturas, daria tudo para saber o placar final de São Paulo versus Flamengo. Enquanto isso, em algum lugar no discurso de Jesus, um homem seria capaz de vender tudo quanto tinha para comprar um terreno o qual se comparava ao reino de Deus, por saber que ali haveria um tesouro escondido.
Onde estiver o teu tesouro, ali estará o teu coração.
Tempos depois, as notícias que recebemos daqueles quatro convertidos são animadoras. Três deles estão firmes na fé até hoje, inclusive o filho da Dona Marina. Já o resultado do jogo que valor terá? Esta história aconteceu há tanto tempo, e os resultados de futebol perdem a importância tão rápido...! O que aconteceu naquela ocasião foi um grande equívoco da parte de nosso querido Ronaldo: naquele dia, o Flamengo simplesmente não havia jogado.

Uma crônica de: Zazo, o Nego.
Fonte: Irmãos.com

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